Estranhos Encontros

ENCONTRO. Realização de PAULA NEGRI. Com GERRAH TENFUSS, MARINA CANANDA. 2016, Brasil, 37 minutos.

Amanhece na locadora, que parece banhada pelo sol de fim de tarde e pelo luar de Debussy. Nesse tempo que nos confunde, João vive a solidão de mais um dia de trabalho – até que Ana aparece para alugar um filme. A partir desse encontro que poderia tomar diversas formas e momentos, o filme recria uma atmosfera de encanto e sedução movida por trocas que parecem banais, mas dão importância e sentido aos nossos dias.

Uma das entradas no dicionário Michaelis para o substantivo encontro é a “junção de pessoas ou coisas que se dirigem para o mesmo ponto ou se movem em sentido oposto”. Mesmo que em sentidos contrários, a junção pode acontecer e fico com isso em mente, porque é o que parece ocorrer com João e Ana no filme de Paula Negri.

A narrativa, em si, de Encontro parece ir no sentido contrário da lógica cotidiana, justamente por não ter pressa, como o ato de sentar-se para assistir a um filme. O plano de abertura nos posiciona numa sala ampla e velha, conhecida por muitos de nós que começamos a ver filmes em meados da década de 1990: uma videolocadora. A meia luz pode indicar o começo do dia ou, para quem assiste deste lugar do futuro, o abandono (daqui, a gente já sabe que esses espaços não existem mais). Olhamos pelas janelas, os carros passam e a vida acontece. Mas dentro daquele lugar há muitas vidas guardadas, à espera do clichê de um play. João (Gerrah Tenfuss) se junta à nossa nostalgia, abre as janelas e acende as luzes, a locadora está prestes a abrir e nós estamos lá dentro. Ana (Marina Cananda) é a primeira cliente do dia, um novo cadastro e uma nova perspectiva para João.

A coisa toda é simples em Encontro, como deveria ser. Apesar de ter menos de quarenta minutos, o curta consegue operar em duas partes distintas, mas que dançam juntas – ou correm lado a lado, como anuncia a cena final ao som do refrão icônico de Bizarre Love Triangle (New Order). Enquanto funcionário da locadora, João apenas recebe Ana, comenta o filme que ela escolhe e diz algo corriqueiro em tom divertido e que transmite algo no não-dito. Há outros clientes e outras conversas banais. O cartaz do filme Um beijo roubado (Wong Kar-Wai, 2007) fica desviando nossa atenção enquanto João e o colega de trabalho passeiam pelo lugar ao longo do dia. Seria nosso protagonista um pouco como a Elizabeth, do filme de Wong Kar-Wai? Alguém que tenta desesperadamente encontrar sentido para a vida recebendo e dando bom dia para as pessoas? Ele também terminou um relacionamento e carrega um desgosto nos ombros e nos olhos, mas diferente da personagem interpretada por Norah Jones, aqui João trabalha indicando narrativas – o que torna difícil aceitar qualquer uma para a própria vida, especialmente sob a perspectiva do (des)encontro.

Porém, pessoas dispostas dão play nos seus próprios filmes. No fim do expediente, Ana surge para fazer a devolução. Sim, o filme era bacana, hoje é sexta-feira, que tal sair por aí? João aceita e quem assiste está pronto para dar esse passo rumo à possibilidade desse encontro. Está tudo ali, todo o desconforto de ter que manter uma conversa em um carro com pessoas desconhecidas; João agora precisa sustentar esse bate e volta dialógico, as conversas sobre o clima e o trânsito, uma música indie legal e o poder de ser o espectador/ câmera que olha Ana de perto: ela sabe que João a observa. Daqui para a frente é o clichê que gostamos de acompanhar, aquelas conversas que sabemos onde querem chegar, um vinho barato, uma tensão que causa o desencontro momentâneo e a necessidade da adrenalina para termos o que esperávamos desde que acordamos dentro da locadora naquela manhã: uma boa história, simples e efêmera, de amor.

Amor no sentido de pessoas se reunirem para fazer um filme que trate de histórias que coloquem pessoas para sentar e suspender a realidade por algum tempo. Encontro é uma possibilidade de ir na direção contrária da lógica corriqueira, do cinema narrativo hollywoodiano. Faz isso não apenas ao filmar justamente o real sem impor nenhuma grande redenção, mas, por outro lado, ao nos fazer pensar sobre como, onde e quando sentamos para assistir a um filme. O curta me colocou em uma posição de espectadora que ocupa um espaço complexo de (in)familiaridade. Foi difícil, por exemplo, esquecer que a videolocadora Cartoon do filme, onde trabalha João, faz um pacto biográfico com o real. Quando cheguei em Curitiba, em meados de 2010, já havia rumores de que locadoras como esta – que existiu por mais de três décadas e fechou sua última unidade em 2019 – iriam começar a baixar as portas. Todo mundo que quisesse assistir a filmes fora do circuito comercial curitibano ia até uma Cartoon. Como a espectadora lida com esse encontro entre si e as geografias afetivas do real, os espaços que hoje são apenas narrativas fílmicas? As ruas que o carro dos amigos de Ana percorrem e a calçada em que a dupla se senta e bebe vinho – possível de alcançar a pé da minha casa, andando menos de três quadras – me colocam para pensar que caminho deliciosamente nesse sentido contrário e que, em algum ponto, a gente se esbarra.

Encontro é um ponto de suspensão no tempo que nos lembra de algumas das coisas que moviam as pessoas até uma locadora, em busca de um filme. Talvez isso passasse longe do real na época da realização do curta, mas quanto mais o tempo se move do dia que João encontrou Ana, mais longa e distante se torna a rua em que eles correm para tudo ter existido e ter acabado em um beijo. Talvez o filme seja o tipo de clichê necessário para que continuemos dando play em histórias das quais sabemos pouco ou quase nada, mas terminamos com a sensação de ter esbarrado com aquelas pessoas – e só nós sabemos qual foi o ponto de intersecção. Que a gente não saia de dentro da videolocadora.

Emanuela Siqueira é tradutora e doutoranda em estudos literários pela UFPR. Escreve sobre cinema há mais de quinze anos em vários veículos e hoje em dia colabora pontualmente com o site Quadro por Quadro. Já fez parte de júri de festivais como Olhar de Cinema (Abraccine), Colors e Cinefantasy.

De seus primeiros planos, Encontro nos transpassa a ambientação nostálgica das locadoras de vídeos, espaços de convivência em que ainda era possível escolher filmes olhando seus cartazes (impressos, miniaturizados e plastificados) em mãos; podíamos tocá-los ao selecionar nossas melhores opções. Hoje são espaços praticamente extintos. A reconstrução singela deles é comovente –  com pôsteres de Resnais e Wong Kar-Wai e as falas recortadas de cenas sendo transmitidas na pequena TV no caixa. Chama a atenção o tempo em que acontecem as pequenezas do dia a dia: abrir as persianas da loja, testar chaves até encontrar a correta, ligar o computador. 

O cadastro que João (Gerrah Tenfuss) faz de Ana (Marina Cananda) é um ótimo exemplo; a espera tediosa e responder mais uma vez o nome, o CPF, o endereço, o número de telefone… Todo esse “tempo morto”, burocrático, é muito bem explorado. São momentos em que há sobras, brechas; um olha melhor para o outro, repara em algum detalhe, observa o caminhar, entrega-se aos gestos de modo ocioso.

De cara, a lentidão do filme desautomatiza nossos corpos hiperestimulados – no afã de respostas imediatas – e institui espaços vazios para o imprevisto; no caso, aqui o próprio encontro entre os dois protagonistas. Ainda que seja um ambiente fisicamente aberto a possibilidades, a locadora parece para João um espaço confinado e solitário antes da chegada de Ana. Vindo de um apartamento que divide com mais dois amigos, que quase não se veem no cotidiano, João pula de casa para o trabalho e de lá volta para casa, enclausurado em uma rotina não muito entusiasmante – ao contrário de seu colega, que parece estar sempre fora de casa, em bares e festas.

Pode-se entrever uma concepção do cinema como arte que envolve a troca e estimula as relações quando João recomenda um filme – O hospedeiro (Bong Joon Ho, 2006) – para que Ana o assista e, pouco depois, ela volta e comenta sobre a trilha sonora com ele. O cinema aqui atua como um elo entre os dois, seja pelo ambiente da locadora, seja pela ideia do próprio filme, que cola as experiências deles. O contrário do que poderia ser designado para o personagem que não sai e não se relaciona, valendo-se dessa arte de forma solitária. O diálogo entre cinema e vida também é palpável com o sugestivo cartaz de Um beijo roubado (Wong Kar-Wai, 2008), logo quando João deixa a locadora com Ana; ou quando a câmera para em um casal que se beija e acaricia enquanto discute qual filme escolher naquela ocasião.

Ao mesmo tempo que João não é discreto, também não é desenvolto o suficiente para ter uma atitude efetiva. Na realidade, sua expressão transmite um deslumbre imoderado, até um pouco cômico. De outro lado, Ana escancara todo o desejo no olhar: insistente, sedutor, desconcertante. Ela é a força motora que arranca do filme a ação. Isso fica nítido no carro, a caminho da festa, quando a câmera se aproxima dela e a jovem parece saber que está sendo olhada/ filmada. A câmera é o olhar dele, mas é ela quem seduz diante desse olhar. Na festa, mesmo quando escolhe permanecer do lado de fora para conversar, o casal é interrompido por um antigo caso de Ana, um tanto desinteressante, que se gaba sobre a grande televisão dele. Algo irônico de se discutir,  ainda mais ao entendermos o espaço da locadora como propulsor desse encontro. O que pensar das novas formas de consumo midiático focadas em avançados recursos tecnológicos, mas frequentemente incapazes de construir espaços de convívio para discussão e trocas?

Desfeito o nó que envolvia os dois, João entra na festa cheia de luzes coloridas e ao som de um remix que entoa “my heart is a ghost town”. No meio das pessoas que se enlaçam, o jovem procura o banheiro e vomita, como quem partiu numa viagem pela primeira vez e o corpo ainda não se acostumou. Desencontrados, o filme quase os separa definitivamente. E se a balada funciona como local em que não há troca de diálogos e predomina um aspecto hostil, tonteante (mais uma vez a clausura), ela é também uma catarse que marca a reação do corpo de João aos estímulos daquilo que está fora dele. A saber, o mundo, os outros, a própria Ana. É como se ele tivesse se deparado com um vórtice que o sacudisse e arremessasse para fora de sua rotina, cooptada por obrigações diárias e previsíveis.

Com o retorno de Ana, se inicia a caminhada do casal. E a cada aceleração dela, que o acompanha com o olhar, finalmente João tenta seguir no mesmo ritmo. Aos poucos, o que era lento se torna rápido e eles correm juntos. É como se Ana tivesse empurrado João e agora ele conseguisse libertar as próprias pernas, entender o movimento entre os dois e permitir que ele aconteça. É assim que o jovem consegue direcionar o corpo para beijá-la. A cena pode remeter a Denis Lavant, apaixonado enquanto corre ao som de Modern Love (David Bowie) em Sangue Ruim (Leos Carax, 1986). Mas aqui o casal corre junto e é esse ato dos dois se colocando em ação que evoca no filme a crença no próprio cinema – a arte do movimento por si só. É graças a ela que os dois resistem e se entregam ao que ainda adormece desterritorializado, para além do opressivo deserto do real.

Ivana Fontes é jornalista, poeta e mestranda em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP. Já fez participações de voz para a banda Cães de Prata – em singles e nos discos Nocaute e Cassius & Sonny –, além de faixas para a banda Pacamã. Publicou, também, poesias nas páginas Aboio e Ruído Manifesto.

Para nossa entrevista deste mês, tivemos a oportunidade de conversar com Paula Negri, diretora e uma das roteiristas de Encontro (2016). Paula cursou Cinema e Vídeo na UNESPAR e Letras-Português na UFPR. Atualmente, é sócia e colaboradora da produtora de filmes Asilo Febril. Dirigiu e roteirizou também Maria José (2015), que, como Encontro, retrata conexões, ilusões e desilusões amorosas. Além disso, dirigiu Flores (2016), um documentário sobre as ruas e flores do bairro curitibano Ahú, e tem um longa-metragem de ficção em fase de pós-produção: Amor em Agosto, que traz duas pessoas que se apaixonam ao trocar cartas. Atualmente, dirige um documentário sobre a Barragem Miringuava, em São José dos Pinhais, e seus efeitos na natureza e população ao redor da construção.

As respostas a seguir nos distanciam um pouco dos espaços e tempos peculiares ocupados por João e Ana; elas nos trazem vestígios do processo criativo do filme e da realizadora entrevistada, com suas particularidades:

Em tempos de grandes sacadas narrativas e debates sobre a relevância de certos temas em detrimento de outros, chama nossa atenção Encontro partir de uma premissa tão direta, tão simples, mas conseguir ser um filme tão bonito e peculiar. Gostaríamos de saber: o que te levou a ele?

Havia dirigido meu primeiro curta-metragem, o Maria José, pouco tempo antes, e a vontade era de levar o filme seguinte para outra direção, explorar a decupagem após entender o que havia funcionado ou não no primeiro curta, em busca de um resultado melhor, ou ao menos diferente. A história foi se desenhando a partir da ideia de que boa parte da nossa vida é escrita, modificada, guiada pelos encontros com pessoas e experiências que vivemos com elas. O processo de escrita foi mais intuitivo, baseado em experiências pessoais, que eu considerei reais e significativas.

Como surgiu o ímpeto de filmar uma locadora? O fim deste tipo de local já era algo previsível para você? 

O apelo visual do ambiente da locadora teve um peso e foi um recurso utilizado na fotografia e arte do filme. Mas também poderia ser uma livraria, uma loja de conveniência: João deveria ter um emprego que não estivesse relacionado ao curso de História, que estava cursando. A intenção era indicar uma espécie de limbo, um desencontro consigo mesmo, a necessidade de trabalhar sem estar se sentindo realizado profissionalmente. O fim das locadoras era bastante previsível e, na época em que gravamos o filme, a própria Cartoon estava já com o segundo andar, antes cheio de prateleiras com DVDs e Blu-Rays, totalmente fechado e transformado em depósito. No entanto, não quis deixar evidente no filme a futura falência do local, mas sim retratá-lo com carinho, como quem o vivenciou e o guarda na memória.

Falando sobre locadoras, pensamos na distribuição dos filmes. Ficamos surpresos ao descobrir que Encontro não circulou, não teve carreira em festivais. Vocês chegaram a enviá-lo ou não foi algo que consideraram fazer?

O filme foi enviado a um festival grande da cidade, mas não foi selecionado. Ele foi exibido algumas vezes a convite de espaços e mostras, ou exibições organizadas pela equipe, mas não houve um planejamento de distribuição prévio e eu sempre tive pouco empenho em procurar festivais que aceitassem a proposta e a duração do filme (muitos aceitam filmes de até tantos minutos, ou acima de tantos minutos, e Encontro está num meio termo com seus 37’). As inscrições nos festivais por vezes não eram gratuitas e não tínhamos nenhum incentivo para pagar por essas aplicações, mas o principal fator talvez tenha sido a falta de interesse da minha parte. Acabei engavetando o filme por alguns anos, embora sempre tenha enviado o link não-listado a quem me perguntasse sobre ele. Em 2019 percebi que era uma grande besteira não deixar o filme disponível ao público e postei o link do Youtube para ser divulgado. Me surpreendeu a resposta positiva que tive a partir desse momento, e pensei que deveria ter feito isso logo após ter finalizado ele, em 2015, já que alcançou tanta gente.

Você poderia comentar um pouco sobre o quanto o filme mudou ou não entre as ideias iniciais (escrita do roteiro, primeiras imagens, intuições) e o processo de filmagem (locações, trabalho com o elenco e a equipe, colaborações, registros físicos de intenções criativas)? 

O trabalho de pré-produção foi muito extenso e prazeroso, a equipe estava bastante engajada e se reunia semanalmente, todos contribuíam com ideias para o projeto. Fomos às locações e fizemos todo o processo, storyboard, shooting board, etc. Acredito que por isso estávamos bem alinhados na produção. No entanto, foram dias exaustivos em que filmávamos a madrugada toda na rua e terminávamos a diária de manhã na locadora, num período de inverno curitibano dos mais frios. Muitos da equipe ficaram doentes e alguns não conseguiram finalizar as gravações. Quando terminamos, estávamos esgotados. Acredito que o resultado ficou próximo da ideia inicial por termos nos organizado bem durante a pré-produção, pois o processo de filmagem em si saiu do esperado em muitos aspectos.

Agora conte mais sobre seu processo criativo: como organiza suas ideias no início de um projeto?

Se a ideia surge forte, eu já abro o Celtx ou Word e começo a escrever a cena 1 e aí vou escrevendo uma cena após a outra. Às vezes a cena seguinte vem no outro dia de manhã, tomando café, pois fico pensando sobre ela até terminar de escrever. Não gosto muito de revisar o roteiro, acho um terror, mas às vezes não tem escapatória… Encontro não teve tratamento ou revisão alguma, surgiu daquele jeito mesmo e foi o filme. Quando o roteiro está pronto, faço a decupagem em formato de storyboard, com uns desenhos bem simples, geralmente já visualizando alguma locação conhecida, ou tento encontrar algo parecido depois.

O que levou você ao cinema e o que incentivou/complicou sua vontade de fazer filmes? Como enxerga a possibilidade de continuar a fazer filmes independentes no Brasil?

Morei na França por um período e terminei o Ensino Médio lá. Eles tinham um programa, na escola, de aula extracurricular de cinema. Me abriu os olhos pra muita coisa. Quando voltei pro Brasil já estava decidida a fazer cinema. Entrei no curso em Curitiba, me mudei para cá e conheci no curso meu marido e alguns amigos que me acompanham até hoje, atualmente sócios da nossa produtora, a Asilo Febril. Temos encontrado alguns caminhos para fazer filmes, tentando conseguir incentivo, mas sem depender disso para realizar o que temos vontade. Temos, nos membros da produtora, uma equipe reduzida e que dá conta de produzir de modo independente, estando presentes nos filmes uns dos outros. No entanto, temos também outros empregos e por vezes temos que nos dedicar ao cinema nas horas livres, fins de semana, férias. Acho que o que complica é isso, não é fácil conseguir se dedicar somente ao cinema, fazer disso a única fonte de renda. Nós fomos nos adaptando, foi um processo, e estamos felizes com o modo como os projetos têm progredido. 

FICHA TÉCNICA - ENCONTRO

País: Brasil. Duração: 37 minutos | Cor: Colorido | Ano: 2016

Direção: Paula Negri | Produção: Miguel Haoni e Giovanni Comodo | Roteiro: Paula Negri e Murilo Coelho | Fotografia: Eduardo Savella | Ass. Foto: Pedro Bento | Arte: Leticia Weber Jarek | Ass. Arte: Diego Marchioro | Som: Felipe Ribeiro | Ass. Som: Mariana Hodniuk | Ass. de direção: Lou Bueno | Montagem: Cauby Monteiro | Finalização: Lucas Kosinski 

Elenco: Gerrah Tenfuss e Marina Cananda